sábado, 12 de maio de 2018

JOVINO PEREIRA apresenta 20ª AGRITECH/ISRAEL 2018.

Jovino Pereira (em pé)


20ª AGRITECH/ISRAEL 2018

Ocorreu entre os dias 08 e 10 de maio a 20ª AGRITECH/2018 (Exposição e Congresso Agrícola Internacional), no Centro de Convenções de Tel Aviv/Israel. Esse é um dos mais importantes eventos da área de tecnologia agrícola do mundo. A exposição profissional internacional ofereceu um local de encontro para fabricantes, pesquisadores, investidores, acadêmicos, compradores e tomadores de decisão que representam tanto os interesses locais quanto internacionais. A conferência deste ano teve como tema os desafios singulares enfrentados em vista do aquecimento global, mudanças climáticas, escassez de água e outros fatores que contribuem para uma crescente desertificação de terras agricultáveis no mundo. No congresso, especialistas compartilharam suas pesquisas, observações e táticas práticas na criação de soluções duráveis para uma agricultura sustentável em áreas áridas e desérticas.

Foi realmente incrível entrar em contato com o altíssimo nível de avanço tecnológico da agricultura em Israel, especialmente no manejo da água para irrigação e uso dos fertilizantes. Não é à toa que o país possui as empresas que são líderes globais nesse segmento. O evento foi uma mostra da Revolução Tecnológica pela qual passa a agricultura. Com o esgotamento do atual paradigma produtivo vigente da Revolução Verde[1], o modelo produtivo da agricultura do futuro será com base na agricultura de precisão ou agricultura inteligente, que está se tornando possível graças à conjunção de tecnologias de áreas de ciências agrárias, geotecnologias, mecatrônica e informática. Se na Revolução Verde buscava-se produzir mais com a aplicação intensiva de insumos, como água, fertilizantes e defensivos químicos, agora a busca é por produzir mais com menos insumos, por meio do controle informatizado de todas as variáveis de produção.

O evento está em sua vigésima edição e atrai pessoas de todo o mundo, inclusive do Brasil, mas a presença massiva é da Ásia, com muitos chineses e indianos, e de africanos de várias nacionalidades. Não é à toa o interesse de chineses, indianos e africanos na tecnologia agrícola israelense. Esses países possuem grandes extensões de seu território ocupadas por áreas áridas, semiáridas e desérticas. Além disso, a China que atualmente possui 1,37 bilhão de habitantes, a Índia que possui 1,34 bilhão e a África que está com 1,3 bilhão, enfrentam desafios enormes para produzir alimentos e conservar seus recursos naturais. Esses países da Ásia, principalmente a China, estão se tornando grandes consumidores mundiais de produtos processados e matérias primas agrícolas, devido ao seu acelerado desenvolvimento e a criação de uma gigantesca classe média.

Outro aspecto que chamou muito a atenção foi o fato de Israel ser uma potência agrícola, mas no campo da tecnologia, ao contrário do Brasil, que é uma potência agrícola na produção de bens primários de baixo valor agregado. O fato de ser um país com condições naturais extremamente adversas para a produção agrícola, com 65% de sua área ocupada pelo Deserto do Neguev, sem dúvida foi um dos motivos para sua ascensão como líder no segmento de tecnologias agrícolas. Mas obviamente que essa situação por si só não seria suficiente, se não fosse uma política agressiva de formação de quadros altamente capacitados e o espírito empreendedor do produtor israelense. Muitas das grandes empresas atuais, líderes globais em seus segmentos, nasceram como pequenas associações para resolver os problemas de seus kibutz[2]. Além disso, as empresas locais foram muito beneficiadas pela tecnologia e pela mão de obra oriundas das forças armadas, que contam em seus quadros com excelentes engenheiros mecânicos, eletrônicos e de informática.

Durante o evento não pude deixar de fazer uma associação dos temas discutidos, tais como agricultura em áreas áridas e semiáridas e desertificação, com a situação do Norte de Minas e as dificuldades enfrentadas pelo povo em geral e pelo produtor rural, em particular. O exemplo de Israel serve muito bem para nos mostrar que é possível desenvolver-se e gerar riqueza mesmo em áreas com escassos recursos naturais, principalmente água. No caso do Norte de Minas, a situação climática é amplamente mais favorável em relação às condições enfrentadas em Israel, especialmente na região onde me encontro, Beer Sheva, no deserto do Neguev. Para se ter uma ideia até mesmo trigo se planta aqui, com variedades desenvolvidas especialmente para o clima seco e frio. A região possui uma universidade de ponta, a Universidade Bem Gurion, onde está situado um dos centros mais importantes do mundo em pesquisa de agricultura no deserto.

Sem dúvida, com investimento em pesquisa e educação, o Norte de Minas e o semiárido brasileiro como um todo têm muito potencial para se desenvolver e transformar em grande celeiro. No entanto, não basta produzir matérias primas com baixo valor agregado. É preciso investir em processamento e transformação. Se quisermos dar um passo a mais, precisaremos criar a tão sonhada universidade federal do Norte de Minas, com vocação para produzir soluções e tecnologias para o semiárido. Dessa forma, poderemos seguir a mesma trilha que o povo israelense seguiu e nos transformarmos em geradores de tecnologia, que atualmente são os ativos mais valorizados em termos econômicos.

Jovino Pereira da Fonseca Neto é Engenheiro Agrônomo (UFV) e Bacharel em Relações Internacionais (UFBA). Possui mestrado em Segurança Internacional pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra/Portugal. Trabalhou no Ministério da Agricultura em 2002/2003 e desde 2003 é Perito Criminal da Polícia Federal.



[1] Termo utilizado para designar as transformações tecnológicas pelas quais passou o processo produtivo na agricultura mundial, a partir da década de 1950, principalmente por meio do emprego de novos produtos oriundos da indústria química, tais como fertilizantes e agrotóxicos, além do uso de sementes adaptadas pelo melhoramento genético.

[2] Comunidade israelense economicamente autônoma com base em trabalho agrícola ou agroindustrial, caracterizada por uma organização igualitária e democrática, obtida pela propriedade coletiva dos meios de produção e da administração conduzida por todos os seus integrantes em assembleias gerais regulares.


Registro fotográfico


Auditório da conferência

Área externa da feira com maquinário e implementos

Área de exposição de empresas de irrigação e outras tecnologias

Netafim, líder global em irrigação.

Netafim, líder global em irrigação.

Rivulis, desenvolvedora de sistemas informatizados para irrigação, como o aplicativo manna.

Volcani, empresa pública de pesquisa agrícola, espécie de Embrapa israelense.
Pavilhão com empresas de sementes, nutrição animal e de plantas, projetos, etc.
Pavilhão de empresas start-up. Algumas delas poderão ser empresas globais no futuro

Aerodrome, empresa de drones para agricultura.
Registro da participação no evento. Agricultura do amanhã ao seu lado
Pavilhão com empresas de sementes, nutrição animal e de plantas, projetos, etc.

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